Apesar de parecer novo, sou praticamente um dinossauro no CrossFit. Treino desde 2013, e minha primeira aula foi em novembro daquele ano, na CrossFit ZN, que ficava exatamente onde hoje está a CrossFit Betta. Na época, as aulas experimentais aconteciam apenas aos sábados. Formava-se um grupo de cerca de 10 pessoas que não faziam ideia do que enfrentariam naquele dia. A aula vinha antes do famoso “aulão”, e foi ali que me apaixonei pelo CrossFit — ao primeiro burpee.
Se você se lembra do seu primeiro treino, sabe do que estou falando. Aquela sensação ao final é indescritível. No meu caso, tive tanta certeza de que queria isso para a vida que fechei um plano anual e paguei à vista.
Desde a primeira semana, treinei de segunda a sábado, sem falhar um dia e sem me preocupar com o treino do dia seguinte. Naquela época, para saber o WOD, era preciso esperar a atualização do blog depois da meia-noite. Como eu treinava às 6h30 da manhã, nunca via antes. Mas isso nunca importou. Eu sabia que a única coisa que precisava fazer era ir, independente do que estivesse programado. Sempre foi pelo processo, nunca pelo resultado.
Tudo ia bem, exceto por um detalhe: eu nunca conseguia fazer um treino RX. Sempre precisava adaptar algo — carga, movimento ou volume. Isso não me incomodava tanto, mas, em alguns dias, gerava frustração. E essa frustração, na medida certa, é algo positivo. Ela mostra que você quer evoluir.
Então, decidi que, a partir da semana seguinte, faria todos os treinos RX, não importava o preço. Não lembro de todos os treinos daquela semana, mas tem um que jamais esqueci: “GRACE”.
Na sexta-feira, o treino era este benchmark: 30 repetições de Clean and Jerk para tempo. Homens com 61kg, mulheres com 43kg. No aquecimento, consegui fazer uma repetição bem executada com o peso RX. Fiquei empolgado. Meu coach até disse:
— Boa! Hoje você vai fazer RX.
Mal sabia eu o que estava por vir.
Este treino, que hoje levo menos de 4 minutos para completar, demorou 30 minutos. Meu corpo levou uma surra. Tudo por culpa do meu ego. Eu simplesmente ignorei o propósito do treino e decidi fazer algo para o qual não estava preparado.
A única coisa boa disso? A lição que aprendi. Adaptar um treino não é crime, vergonha, nem sinal de inferioridade. Adaptar é o caminho mais rápido e seguro para evoluir. Assim como está escrito na apostila do guia de treinamento da CrossFit:
“Scaled as needed.”
(Adapte conforme necessário.)
O objetivo (estímulo fisiológico proposto) do treino sempre deve ser o alvo atingido, e a adaptação é a melhor ferramenta para isso.
A verdade é que nós somos apenas praticantes de CrossFit. Não somos RX, SCALED, AVANÇADO ou INICIANTE. Esses rótulos pertencem ao treino. Se você segue exatamente o que está na lousa, fez RX. Se adaptou alguma parte, fez scaled. Simples assim. E, no fim das contas, isso não importa.
O que realmente faz a diferença é consistência. Treinar de cinco a seis vezes por semana com adaptações gera muito mais resultado do que insistir no RX e treinar apenas duas e não chegar perto do que seu professor orientou.
Se você ainda não está convencido, aqui vai um fato: mesmo depois de 12 anos no CrossFit, ainda faço scaled em pelo menos um ou dois treinos toda semana. Mas treino no mínimo cinco vezes, me alimento bem e faço o que precisa ser feito. Isso vale muito mais do que apenas buscar o RX.
Porque, no fim das contas, CrossFit não é sobre fazer RX ou scaled. É sobre desafiar-se, se movimentar bem, evoluir e, acima de tudo, se divertir