Recentemente, tivemos um treino que envolvia crossovers — um movimento que consiste em saltos de corda alternando entre uma passagem aberta e uma passagem cruzada à frente do corpo. Cada round começava com 20 repetições desse exercício, e, dentro dos 15 minutos disponíveis, consegui completar 6 rounds, além dos saltos de corda do sétimo. Fiquei um pouco abaixo dos melhores resultados. Isso, sinceramente, não me incomodou. O que me frustrou de verdade foi ter errado o movimento em dois rounds, o que me atrasou e, de certa forma, me irritou.
Minha irritação, no entanto, durou menos de cinco minutos. Assim que recuperei o fôlego e comecei a repassar mentalmente tudo o que havia feito no treino, me dei conta de algo importante: menos de duas semanas atrás, eu mal conseguia realizar 10 repetições seguidas com consistência. Eu mais errava do que acertava esse movimento. Faz sentido me irritar por causa disso? Nenhum! Virei a chave e celebrei: eu havia acertado muito mais do que antes.
Todos nós temos memória curta. O que hoje é apenas difícil, um dia já foi impossível.
A gente esquece que, um dia, o aquecimento já cansava antes mesmo do treino começar. Que o simples fato de comparecer à aula já era uma vitória. Que éramos especialistas em inventar desculpas. Que ficar pendurado na barra parecia inimaginável. Que tirar o peso do chão e levá-lo acima da cabeça soava como loucura.
Vejo alunos frustrados por um dia ou outro não conseguirem fazer um bar muscle-up, andar de ponta cabeça, acertar a carga do snatch, ou mesmo por estarem cansados demais para terminar o treino. Mas… você se lembra de como estava seis meses atrás? Quando começou?
E se começou agora, ou há pouco tempo, você vai se lembrar de como era no início? Mal conseguia subir um lance de escadas, não tinha forças para se levantar, tudo parecia um esforço descomunal.
Sim, é difícil vir treinar todos os dias — mas depois vira hábito. Um ou outro movimento vai parecer impossível — mas antes, todos eram. A verdade é que nunca vai ser fácil. Sempre haverá um novo desafio.
Curta o processo. Divirta-se com ele. E exercite também a sua memória.
Isso vale para o box, mas também para todo o resto na sua vida.